sabes quem sou? é um momento projectual no qual partimos da ficção principal
para três diferentes expansões ao tema nela abordado:a identidade enquanto
MacGuffin e a identidade fantasma.Quantos eu's poderão habitar um só corpo?
A nossa ficção procura compreender o limite do eu e da sua construção:
existirá o eu, ou seremos constantes construções do outro e dos contextos
em que esse outro exterior a nós se insere? Através destes registos audiovisuais
realizados individualmente, exploramosas diferentes problemáticas que giram
em torno da problemática principal, de entre elas: o eu enquanto construção
com diferentes níveis de representação, a não-identificação do eu com as
experiênciase memórias do corpo (separação entre pensamento e matéria),
e a desassociação entre o eu e a imagem do corpo que habita.
À questão “sabes quem sou?” este objeto audiovisual responde com a
ânsia de quem não tem respostas, de quem as procuras incessantemente
mas acaba mergulhado em sombras, em vultos, em memórias de algo que
não se sabe ter sequer sido, de ilusões.
A possibilidade de num único corpo habitarem vários eu’s, de podermos
sair de nós mesmos e olhar- mo-nos, como um outro olha um par, leva à
pergunta que não quer calar: quem sou eu?
Este objeto serve de expansão à ficção criada coletivamente em fora de mim,
onde a questão da identidade e do conflito de eu’s é o foco. Nele são exploradas
as memórias visual e auditiva que aludem a momentos passados em busca de definição,
certezas de terem existido e nitidez de representação. O sujeito depara-se com
estas imagens mas não se revê, tornando-se cada vez mais agitado e persiste,
dirigindo-se a que vê nestas imagens e sons: “sabes quem sou?”.
Como conhecemos verdadeiramente alguém? O que nos garante que aquilo
que assumimos
como real é de facto, real?
Na República, Platão defende a existência de 3 níveis de representação que podem
ser aplicados às questões identitárias sobre as quais este objecto se debruça
à sua perceção: o real; o contexto, que advém de uma relação direta entre o real
e o meio; e a percepção por parte do outro, que é de carácter subjetivo e advém
de juízos de valor retirados do plano anterior.
Quantas camadas possui deste modo um “eu”? A identidade do outro presume a existência
de inúmeras camadas de conhecimento.
Quanto mais as descortinamos mais perto estamos da verdadeira identidade. Estas várias
camadas são importantes na construção da identidade e coexistem.
É acerca da quantidade de camadas existentes entre aquilo que vemos no outro e o seu
verdadeiro eu, ou seja, tudo aquilo que está entre, que este objecto de desenvolve.
Neste objecto audiovisual, expõe-se deste modo uma visão pessoal acerca da ficção
em construção, fora de mim, onde tal como na ficção em questão existe um
corpo com múltiplas camadas que não sabe quem é e que tenta incessantemente através
deste deste descascar de camadas encontrar uma resposta.
Sabes quem sou? Eu não sei. é um objeto audiovisual que se
desenvolve no
âmbito da disciplina de Design de Comunicação 2019/2020 inserindo-se no projeto
A Collision between a stream of light and an obstacle. Enquanto Gabinete
de Ficção, visa expor perspectivas e variantes pessoais acerca do projeto
a ser desenvolvido.
Tal como na ficção fora de mim há uma presença evidente de uma identidade
fantasma. Uma identidade que se perdeu e que outrora se definia facilmente.
A quem pertence agora o caminho que percorrem aqueles pés?
Sabes quem sou? Eu não sei. é uma conversa interior, é a procura de uma
essência. Ao amplo céu, questionamos a nossa existência. Deambulamos sobre aqueles
que vemos. Procuramos um reflexo nosso. Mas o espaço está vazio. A nossa identidade
já não é resgatável. Só nos resta seguir. Só nos resta recordar.